segunda-feira, 2 de abril de 2018

Graças a Deus, estou em greve


Sou professor da rede pública do RN. Sou de luta. Eu, meus colegas e todos os professores do estado que eu conheço, estamos em greve. Parte de nós já não pisa em sala de aula desde o dia 23 de março; um dia após aquela sessão do STF que adiou para 4 de abril a decisão sobre o habeas corpus de Lula.

Eu fico em casa imaginando o que eu iria responder aos meus alunos caso perguntassem sobre o momento político atual, algo como: professor, por que estão tentando livrar Lula da prisão se ele já foi julgado e condenado em primeira e segunda instância?

Cá comigo, acho que poderia aproveitar o momento para dar uma resposta mais longa, puxando pela memória dos alunos, lembrando a questão  do golpe ao projeto político vencedor nas urnas, falar um pouco sobre o avanço do neoliberalismo, os ataques à classe trabalhadora, as perdas de direitos, a influência histórica da elite burguesa nas questões políticas do Brasil, poderia também tocar na questão da mídia controladora a serviço do grande capital, talvez até falar um pouco sobre as suspeitas que recaem sobre Sérgio Moro, dele estar atuando como uma espécie de agente a servico da CIA. Daí provavelmente viria um pouco sobre os planos para tomarem a nossa soberania na exploração do pré-sal, a queda do barril de petróleo, a crise na Venezuela, o aquecimento global, a questão do imperialismo americano, etc. Talvez marcasse um dia pra fazer uma mesa redonda sobre o assunto, quem sabe até com um convidado de fora.

Ou não. Poderia muito bem dar apenas uma resposta curta e clara, direta ao ponto, tipo: "Lula é líder absoluto das pesquisas e a elite não aceita, por isso querem prendê-lo sem provas. Depois de afastarem a presidenta Dilma, querem agora impedir Lula de voltar à presidência". Acho que isso fecha a questão.

Mas, graças à greve, não preciso abordar esses assuntos no momento. Pelo menos, não agora que os fatos estão se desenrolando, com o ex-presidente ameaçado de ser preso e os paneleiros querendo ir às ruas para exigir a cabeça de Lula numa bandeja de prata. Sabe como são os jovens, sempre tem os 'Maria vai com as outras', e pra piorar, tem professor que dá corda. Na minha escola tem um que é coxinha declarado no Facebook. Imagine aí se resolvessem fazer cartazes de protesto pra ir as ruas dia 3? E ainda reclamam de doutrinação nas escolas.

Não sei os demais colegas, mas eu acho um saco ter que explicar conjuntura política pra quem ainda teima em não aceitar os fatos. Como diz um colega meu, não sei qual o pior, os bolsominions ou os fanboys do MBL, aquele pessoal que acha que entende alguma coisa de política só de compartilhar memes no Facebook. Pior ainda é ter que refutar gente que acredita em teorias conspiratórias. Pense como eu tenho abuso dessas dessas histórias. Tem gente por aí que acha que há um complô em andamento, um acordo envolvendo políticos poderosos e parte da alta cúpula do judiciário. Esse acordo envolveria o PT, o PMDB, o PSDB..., com o STF, com tudo, e se brincar, até com o crime organizado. Existe isso? Só falta agora dizerem que o golpe de 2016 foi combinado entre eles. Vê se pode.

Como ser político, acho que o momento é de organizarmos nossa luta contra esses ataques ao estado democrático de direito. A prisão de Lula é o que falta para instituirem de vem um estado de exceção no país. É a volta do autoritarismo e da repressão, por isso é importante que a categoria se mantenha unida e forte nesse momento.

Voltando à questão da greve, dia 3 tem assembleia na sede do sindicato e estou bastante empolgado. Vamos lá, pessoal. A luta está apenas começando. Precisamos dar o nosso recado a esse desgoverno. Fora, Robinson! Golpista! Tire as mãos dos meus direitos! #SemPisoEuNaoPiso

Esta é uma publicação fictícia sem relação direta com a realidade ou posicionamento político do autor.

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