quinta-feira, 5 de março de 2020

Greve da Educação RN 2020


Afinal, Fátima é contra os trabalhadores? Seria Fátima Bezerra inimiga dos professores? Estaria a governadora tentando prejudicar a classe de onde ela saiu? Se eu perguntasse isso à assembleia, talvez ninguém levantasse a mão concordando, mas se eu perguntasse quem está insatisfeito, quem se encontra nesse exato momento revoltado com as propostas do governo, certamente todos concordariam. A disposição para a luta em defesa dos seus direitos pode ser percebida em cada professor, pois é nítida a insatisfação da categoria. Contudo, se Fátima não é uma traidora da classe e não envia suas propostas com a intenção de esfolar os professores negando-lhes seus direitos, pergunto: por que fazer greve? 

A greve é um instrumento político, uma ferramenta cuja forma de pressão é o desprestígio que ela provoca ao político mandatário; é a forma que os trabalhadores têm de se vingar, e essa vingança é no campo político. Contudo, se aqueles que estão propondo a greve são os mesmos que defendem politicamente a mandatária, então a greve é inócua — para não dizer uma farsa. 

Muita gente diz que greve não resolve nada, que é inútil, e isso acontece porque, digo eu, há muito os governantes descobriram que a greve é também uma forma de escape da revolta reprimida; uma forma de aliviar a tensão do trabalhador fazendo parecer que algo está sendo feito. A greve dá vazão ao sentimento de revolta que há no trabalhador para que quando chegarem as eleições ele não esteja carregando aquele rancor direcionado e vote com a esperança de que as coisas irão melhorar. 

A minha sugestão é que a categoria acate a proposta do governo, confie em Fátima, acredite que ela quer o melhor para nós, pois foi por isso que votamos nela — e não para ela viajar pela Europa comendo pipoca Bokus — então, mantenhamos a fé, e se esse melhor não vier, pelo menos manteremos o sentimento de indignação e daremos a ela a devida resposta nas eleições. Fátima foi eleita prometendo o céu e as estrelas para os servidores públicos, sua tropa de frente sempre bradou aos quatro ventos que dinheiro tinha, o que faltava era vontade política, e agora que ela se encontra abancada no Palácio do Potengi, quer pagar os nossos direitos em 24 parcelas como se fosse um carnê das Casas Bahia. É hora de darmos as costas não somente a ela, mas também a todos que, dizendo-se defensores dos trabalhadores, estão na folha de pagamento do estado ocupando cargos de confiança (da confiança da governadora, não dos trabalhadores). 

Aderir à greve é concordar com o toque do sindicato, e apoiar esse sindicato, hoje, é demonstrar servidão a Fátima. Considerando a atual conjuntura, a verdadeira resistência consiste exatamente em dizer não à greve e não a esse sindicato que se encontra enxertado nas entranhas do governo. Essa greve é um jogo de cartas marcadas, e não é o sindicato quem a está convocando, é Fátima quem a convoca através do seu instrumento, o Sinte, com a finalidade de desviar o foco da reforma da previdência. A proposta do retroativo em 24 meses é revoltante e pode parecer ridícula, mas a aposentadoria é para o resto de nossas vidas. Abramos o olho. 

Um comentário:

  1. Exponho aqui os motivos pelos quais sou contrário à greve. Como todos sabem, a proposta do governo é ridícula; e por que é ridícula? Será que essa proposta foi o melhor que Fátima juntamente com sua equipe conseguiu elaborar? É claro que não; a proposta do governo é justamente para provocar a categoria e fazê-la entrar em greve. A greve é uma forma de desviar o foco da questão mais importante, a reforma da previdência estadual.

    Hoje, há duas frentes, e ao aderir à greve, direciona-se a energia (revolta) escolhendo-se a frente imediatista, a da questão salarial — esquecendo-se, inclusive, que é possível pressionar o governo na justiça, onde têm sido as últimos conquistas da categoria, no campo jurídico — deixando de lado aquilo que é mais importante, o debate e a pressão em cima dos deputados para que a reforma seja justa.

    A greve resume-se na elaboração de propostas e tentativas de acordos para fazerem parecer ao trabalhador que ele está tendo um peso nas tomadas de decisões, quando estas são tomadas nos bastidores. Com o passar das semanas, começa-se a pensar nos dias de reposição, nos sábados a serem trabalhados, de forma que as propostas ruins já não parecem mais tão ruins.

    A questão que eu levanto não é simplesmente não aderir à greve, mas o porquê de não aderir. Imagine que a maioria tivesse esse pensamento, de que a proposta foi feita justamente para que houvesse greve, a recusa em aceitar esse comando representaria uma ruptura no estado de servidão ao qual a categoria sempre demonstrou ao sindicato/partido e à senhora Dona Fátima; ela então colocaria suas barbas de molho temendo virar o próximo Geraldo Melo — eleito governador com o voto maciço dos professores, traiu a categoria e caiu no ostracismo político.

    Enfim, é apenas a minha opinião. Posso estar certo, mas há grandes chances de eu estar errado; afinal, o essencial é invisível aos olhos, e falo limitado à minha visão imediata das coisas e sem conhecimento daquilo que ocorre nos bastidores do poder.

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