terça-feira, 31 de março de 2020

Se a igreja somos nós, qual a necessidade do templo?


Considerando que estamos vivendo em um período de isolamento social, onde somos impedidos de nos reunir no templo e forçados a interagir à distância, a ideia dos chamados ‘desigrejados’ — de que o templo é desnecessário — pode até parecer que ganhou corpo, mas será que vale a pena abrir mão do ajuntamento solene para vivenciarmos o cristianismo em voo solo? Afinal, “se a igreja somos nós, podemos cultuar a Deus em casa, não é mesmo?”, ou “se Deus não habita em templos feitos pelos homens, por que eu precisaria de um prédio?” Estas são algumas das alegações dos que tentam desconstruir a ideia da igreja visível, isto é, a igreja enquanto congregação: a igreja local. Mas será que esses argumentos são plausíveis e não há como contra argumentá-los de acordo com as Escrituras? Vejamos.

A igreja somos nós”. Na verdade, você não é a igreja; você é parte da igreja. A Bíblia nos ensina que a igreja é um corpo, e você é parte deste corpo, ou seja, você é membro. Para ser (estar na) igreja, é preciso que você esteja inserido no corpo, ou seja, em um conjunto de pessoas, e não somente no sentido metafísico, mas também no sentido real, pois é neste aspecto que entra o papel da igreja em si: na ideia da unificação e da comunhão. Mas como você se unirá a outras pessoas e terá algo em comum com elas se preferir ficar em casa? Lembre-se que comunhão não é amizade; você pode ter amizade com determinadas pessoas e não ter comunhão com elas. 

Igreja não é templo”. Bem sabemos que a igreja não é sinônimo de um templo feito de pedras, mas de pessoas. A igreja é o povo de Deus. Mas em virtude deste sentido, não podemos desmerecer a necessidade do ajuntamento solene enquanto igreja local, lugar onde o povo se reúne para adorar a Deus de forma conjunta: “Alegrei-me quando me disseram vamos à casa do Senhor” (Sl 122:1). A igreja tem o aspecto transcendente sim, mas também tem o seu aspecto visível. Portanto, neste sentido, a igreja é o lugar onde um grupo de pessoas se reúne para adorar a Deus, e isto deve ser considerado. Muitos, por não entenderem, ou não saberem contextualizar corretamente de acordo com a Palavra, acabam se afastando da congregação e deixam até de frequentar a igreja.

Podemos ficar em casa ou nos reunir em qualquer lugar”. Quando nos debruçamos sobre as Escrituras, vemos todo o sistema evolutivo com que o povo se adaptou aos ajuntamentos solenes: nos montes, no templo de Salomão, nas sinagogas... e quando Pedro e João começaram a evangelizar e a Igreja começou a crescer, passaram a se reunir em casas fazendo surgir a necessidade de lideranças, hierarquias e espaços adequados. "Perseverando unânimes, todos os dias, no templo" (At 2:46); percebemos aqui, claramente, a importância do local de reuniões; além disso, nas cartas paulinas, o apóstolo Paulo usa a expressão “para a igreja em”, ou seja, os cristãos da igreja primitiva tinham sim um local visível onde se reuniam; local este que, hoje, equivale ao templo. 

Somos todos iguais, não precisamos de líderes ou pastores". Quando consideramos a sequência evolutiva advinda da transformação de alguém que aceitou Jesus e virou nova criatura, vemos que o processo de regeneração iniciado nele faz com que o indivíduo procure ler mais as Escrituras, exercite os seus dons e tenha o desejo de estar próximo daqueles que fazem o mesmo — suportando as fraquezas dos mais fracos (Rm 15:1) e edificando uns aos outros (1Ts 5:11) — além disso, surge a necessidade de um mentor espiritual, alguém que lhe instrua e lhe ouça. Muitos querem começar a ler a Bíblia indo logo para o Apocalipse, e como conseguirão compreender sem que haja alguém preparado para orientá-los? 

Também não podemos deixar de considerar o aspecto da segurança, da estrutura apropriada, dos benefícios para a comunidade, das conveniências necessárias para a participação dos irmãos, etc. Quando Roma perseguiu os cristãos e os proibiu de se reunirem publicamente, passaram a se encontrar em cavernas, em tumbas e lugares secretos, mas sempre estavam juntos, ou seja, mantiveram a estrutura clerical e continuaram juntos, fisicamente, adaptando-se às novas circunstâncias. 

Quanto a nós, não tínhamos o hábito de fazer cultos online, por exemplo, mas com os decretos impedindo as reuniões, tivemos que nos adaptar a essa nova realidade e passar a realizar os cultos em casa e através da internet, e graças à capacitação dos irmãos e à necessidade do momento, estamos podendo ter essa experiência, mesmo sabendo que não é a mesma coisa, pois falta o fator humano. Contudo, apesar das dificuldades circunstanciais, a igreja do Senhor Jesus não para, pois como já vimos, ela é atuante e vitoriosa — “E as portas do inferno não prevalecerão contra ela.”

Extraído do culto online transmitido pela Igreja Batista Fundamentalista e baseado na mensagem dos pastores Antônio Tadeu e Leandro Carvalho, domingo, 29 de março de 2020.

Um comentário:

  1. Mas o que dizer do crente que não sente prazer em estar na igreja e ter comunhão com os irmãos? Se você se diz salvo e não tem consigo essa alegria, ou seja, se prefere não fazer parte de uma congregação e opta por se isolar, receio que há algo errado com sua espiritualidade. Afinal, se você não tem prazer na comunhão, você quer ir para o céu fazer o quê?

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