sábado, 6 de março de 2021

O silêncio das rãs

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Por todo o Brasil, a última semana de fevereiro e a primeira semana de março foram marcadas por uma série de decretos governamentais que, cada vez mais rígidos, têm provocado apreensão e dividido opiniões. No Rio Grande do Norte, não sei se vocês repararam, mas a governadora não decretou as novas medidas restritivas sem antes anunciar a abertura de novos leitos pelo estado. "Durante os próximos 15 dias estão previstos mais 29 novos leitos Covid19 em Mossoró: sendo 10 leitos UTI no HSL, 16 leitos clínicos no HRF e mais 1 leito UTI e 2 semicríticos no HRTM", informou a propaganda governamental um dia antes da publicação do decreto 30.388 de 05 de março de 2021.

Tá, mas e daí? Como a ampliação do toque de recolher e a restrição às atividades sociais e econômicas — ditas não essenciais — não surtirão o efeito (supostamente) esperado, o número de casos da doença continuará a crescer, e, encerrados os doze dias de sua vigência, aquilo que deveria ser o fim das medidas mais restritivas acabará por se transformar em um novo decreto com medidas ainda mais restritivas. Para tanto, a alegação do governo será a de que, mesmo com a ampliação da capacidade de atendimento, o sistema voltou a colapsar. Basta lembrar que o vice-governador afirmou nesta semana que abrir leitos no estado é o mesmo “enxugar gelo”.

Mas o que nos leva a apostar no recrudescimento das regras, além da pouca eficácia do toque de recolher, é o fato de que, diferente do que aconteceu em 2020, quando prefeitos e governadores fecharam tudo de forma brusca e saíram prendendo gente sentada em banco de praça ou caminhando no calçadão, a estratégia para 2021 tem sido a de impor as restrições aos poucos e valer-se do pânico provocado pelo colapso na saúde para ganhar adesão da população às regras impostas, mesmo elas sendo cada vez mais duras.

No Ceará, estado que parece estar servido de inspiração para Fátima, a limitação de circulação de pessoas, que antes era a partir das 22 horas, passou a ser às 20h nos dias de semana e 19h aos sábados e domingos, e agora entrou em período integral com o lockdown rígido de 05 a 18 de março. No RS, que também recebeu restrição de horários na semana anterior, o governador Eduardo Leite usou o dia 05 de março para proibir a venda de produtos não essenciais nos supermercados e vetou a divulgação de promoções "que possam causar aglomeração".

E o que queremos dizer com isso? Que as medidas adotadas nos estados citados acima são prenúncios do que em breve deverá acontecer no RN. Hoje, 06 de março, já recebemos notícias de lotações em bares, lanchonetes, restaurantes, shopping e também nos supermercados. E por que? Ora, o decreto foi publicado ontem, quinto dia útil do mês; e com um dia a menos para sair e menos tempo para aproveitar, estava na cara que a ampliação das restrições de circulação acabaria por provocar mais aglomerações, e não menos.

Enfim, o toque de recolher decretado por Fátima no dia 26 de fevereiro — que pode muito bem ser interpretado como um abuso inconstitucional — foi considerado por muitos como brando demais, incipiente ou pouco efetivo; afinal, o movimento nas ruas após as 22h já é baixíssimo num estado violento como o RN. Ou seja, a impressão que temos é que para os apoiadores da petista, o importante não é exatamente o impacto de suas medidas sobre o vírus, mas o quanto elas podem impactar nas vidas das pessoas e sobre os seus negócios. No entanto, após esse decreto do dia 05, há quem diga que houve um avanço, e a exemplo do que ocorreu nos estados do CE e RS, já consideram a sua ampliação.

A estratégia, como eu disse, é ir cozinhando as rãs aos poucos, em fogo brando; assim elas não se assustam e até gostam. Por falar nisso, aproveite para pedir o seu delivery e relaxar enquanto a água está morninha. 🛀



Um comentário:

  1. Muitos acharam que as novas regras proibiriam a abertura dos supermercados aos domingos e correram para garantir suas compras. O resultado, como previmos, foi aglomerações.

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